quarta-feira, 14 de julho de 2010

Jornalista escreve texto coerente sobre a derrota da "seleção"

COMENTÁRIO DESTE BLOG: Esse é um texto bem coerente, de autoria de um jornalista baiano. Enquanto isso, a grande mídia tenta atiçar a raiva da população, se baseando em mitos irracionais, ignorando o que realmente fez a "seleção" perder.

O mercado de chuteira

Rogaciano Medeiros*

A nação ainda lamenta a desclassificação da Seleção Brasileira. Realmente, foi triste, mas nada demais. Ninguém é imbatível, principalmente no esporte. O futebol, inclusive, é a modalidade que mais prega surpresas.

A mídia, por motivos diversos, especialmente de caixa, exagerou o máximo que pôde para faturar audiência com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul. E ainda mantém a ladainha, estimulando todo tipo de revolta e ódio do torcedor contra os jogadores e, acima da tudo, a comissão técnica.

O maior alvo, evidentemente, é o ex-treinador Dunga, aliás, precipitadamente demitido pelo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira. Independentemente de a demissão ser merecida ou não, o momento da efetivação só faz atiçar raiva, estimular a eleição de culpados, e qualquer pessoa que analise a desclassificação com racionalidade sabe que o fracasso se deve a um conjunto de fatores.

A bem da verdade, é fundamental destacar que apesar da teimosia e do jeitão zangado, Dunga manteve uma coerência dentro do que se propôs fazer. E se atraiu a raiva da mídia, é porque cortou os privilégios das grandes redes de comunicação, em particular a Rede Globo. Pôs fim ao tráfico de influência dos veículos mais poderosos, e terminou por ajudar à luta pela democratização dos meios de comunicação. Se foi competente ou não, vencedor ou fracassado, é outra questão.

O grande problema é que, por interesses meramente financeiros, a Seleção Brasileira se transformou em instrumento de lucro para uma infinidade de segmentos da economia. O Mundial e o chamado Escrete Canarinho são motivos para se vender de tudo, desde cervejas e tira-gostos em barzinhos que se organizam para transmitir os jogos, à indústria têxtil que despacha camisas a rodo, produtores de bugigangas, o setor de eletroeletrônicos, o mercado imobiliário e até o sistema financeiro.

A Copa do Mundo, da forma como está posta para o Brasil, é o maior incentivador do consumo. O objetivo maior é maximizar os negócios. E neste cenário não é permitido ficar no meio do caminho. É imperioso chegar à finalíssima. Se for campeão, melhor, mas sair antes é prejuízo para todo mundo. Como chorou a imprensa, a eliminação causou prejuízo de, por baixo, R$ 80 milhões. Daí esse estado de histeria coletiva pela eliminação nas quartas-de-final, como se o mundo tivesse acabado para os brasileiros.

O grande Nelson Rodrigues disse certa vez que o Brasil era a Pátria de Chuteira. Felizmente, não viveu para ver que transformaram a Seleção Brasileira no mercado de chuteira, em um jogo desleal no qual do pescoço para baixo é tudo canela e vale qualquer coisa para faturar mais.

* Rogaciano Medeiros é jornalista

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