domingo, 8 de junho de 2014

We are not one

Vocês, torcedores de futebol, nesta época de copa se tornam os mais absolutos privilegiados. Todas as atenções do Brasil se voltam a vocês. Quem não curte futebol é solenemente desprezado e tem que se virar para arrumar distração e companhia, já que a meta de todos é toda unificada para o show da bola rolante. 

Quem não curte futebol é totalmente excluído da condição de ser brasileiro, pois ao assumir a aversão ao famoso esporte transformado em dever cívico e social, vira um desertor, como se quisesse prejudicar o bem estar daqueles que apreciam o esporte (uma ofensiva falácia, bem preconceituosa).

Torcedores, vocês sempre que são criticados, clamam por respeito. E pedem como se vocês é que fossem os excluídos. Sinceramente, creio que posso humilhá-los  a vontade, já que para vocês, torcedores, sempre virá alguém com poder, seja políticos, empresários e celebridades, para lhes defender. Posso chamar vocês de alienados, ignorantes ou até xingações piores, pois um grandão aparecerá imediatamente para defendê-los de seu direito de ser coletivamente hipnotizado.

Eu e muitos que preferem passar longe do futebol, não têm a mesma sorte. Além de desprezados, deserdados, não existe uma só lei que nos garanta o direito à diversão em épocas de copa. nenhuma autoridade se dispôs a oferecer diversão alternativa para os que não curtem futebol. Se existem dicas em revistas, sires de como se divertir com o futebol, não há uma só dica para os que não curtem o superestimado evento. Se houvesse, seria "se virem!", numa verdadeira atitude preconceituosa que coloca os não-torcedores como se fossem sub-humanos.

Torcedores, com absoluta certeza, vocês estão tranquilos, com o direito garantido de atrapalharem o sossego alheio em prol de algo que não lhes renderá benefício. Como um cara pacato, gosto de sossego, algo que me é tirado em épocas de copa. Além de não ter distração digna, ainda tenho que aguentar a gritaria alheia, o que na minha opinião é o verdadeiro motivo para o futebol ser tão popular.

Desejo que torçam com alegria e satisfação, já que vocês não vão ceder a nada mesmo. Em copa, futebol é prioridade absoluta e se não é possível o bem estar real da qualidade de vida, coloquem vocês, com ajuda da mídia, de empresários e de políticos, a falsa alegria da abstrata conquista do futebol em seus sorrisos.

Eu, como não torcedor, sou o verdadeiro sofredor. Enquanto vocês vão tentar soltar adrenalina de forma forçada, a minha será solta naturalmente, pelas perdas dos direitos básicos que em tese me são garantidos, incluindo o de ser brasileiro, já que para a coletividade, ser "brasileiro" é torcer pela "seleção".

Mais uma copa se começa e o Brasil se encontra dividida entre os queridos torcedores, filhos favoritos da Mãe-Pátria e os filhos bastardos, desertores por se recusarem a aderir à brincadeira máxima de nossa sociedade.

Bom, eu e muitos não-torcedores (e são muitos, acreditem!) permaneceremos invisíveis durante um mês até que acabe com toda esta festança das 11 Cinderelas amareladas, transformando as carruagens da esperança futebolística em uma enorme e melequenta abóbora estragada, difícil de ser engolida.

Não somos um só coisa nenhuma. São muitos pra lá (do lado do futebol) e poucos pra cá. Dois lados muito bem divididos pelas regras sociais que impõem o lazer ludopédico. 

Que venha o circo dos horrores futebosteiros. Depois disso, quem viver, chorará. 

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