domingo, 11 de março de 2012

Futebol não substitui meus sonhos

Um dos argumentos que os defensores do fanatismo do futebol mais dizem é que o futebol traz alegria para o povo, que compensa as mazelas do cotidiano, patati, patata, blá, blá e blá.

Mas usar o futebol para canalizar os desejos que não são conquistados em outros setores é um ato de comodismo e de alienação. Como é que algo que só consegue trazer alegrias concretas para os seus envolvidos e investidores, pode substituir as verdadeiras alegrias concretas não conquistadas pela população?

A alegria do futebol é puramente abstrata. É apenas um título. Um titulo vai melhorar as condições de vida de uma pessoa? Obviamente que não.

Nem o papo de que o povo "trabalha mais" quando a seleção ou seu time ganha algum campeonato. Pelo contrário. O que o torcedor quer é comemorar e para comemorar ele tem que não-trabalhar, ou seja, ficar de folga. E para piorar, os adultos, que tem o desagradável hábito de só divertirem com bebidas alcoólicas (outro costume alienado), ficam embriagados após a comemoração e não há quem trabalhe "de pileque".

Talvez a derrota é que estimule o trabalhador a trabalhar mais, nem que seja para esquecer a dor abstrata da derrota. Abstrata porque vitórias e derrotas no futebol nada influem na vida de uma pessoa normal.

Eu pessoalmente, não curto futebol. Tenho o direito de não curtir, pois futebol não me dá prazer. mas nada tenho contra o esporte, algo que as pessoas não conseguem entender. Acham que todo aquele que não curte, odeia o futebol e deseja exterminá-lo. nada disso. O meu desinteresse por futebol é similar ao desinteresse da maioria dos brasileiros por curling. Nem por isso os brasileiros estão querendo matar os jogadores e torcedores de curling.

Assim como acho a existência do futebol perfeitamente admirável. O que não gosto é do fanatismo que coloca o esporte fora de seu contexto, num patamar infinitamente superior ao da realidade. Pois futebol é apenas diversão e diversão não é patriotismo e nem é obrigação cívica e nem social. Rotular alguém que não curte futebol de antipático é um preconceito tão cruel quanto o racismo.

Voltando, mesmo que eu gostasse de futebol, nunca utilizaria o resultado de um jogo, a vitória de um time ou da seleção, como motivos de imensa alegria. Tenho os meus desejos e sonhos particulares, que são insubstituíveis. Futebol não vai me trazer emprego, casa, comida, namorada e o que for. A alegria do futebol nada tem a ver com o povo, nada tem a ver comigo. A vida dos jogadores e equipe técnica não me interessa. Vivos ou mortos, os jogadores em nada interferem em meu cotidiano.

Eu não troco meus sonhos por uma vitória da seleção no futebol. Se ela vencer ou se espatifar, dá no mesmo, em relação à minha vida. nada muda.

Portanto a vitória da seleção na copa não vai trazer alegria, nem a mim, nem ao povo. Alegria é vida digna, com dinheiro justo todo fim do mês, com moradia, amigos de verdade e todos os direitos básicos que a constituição garante e as autoridades e empresários insistem em ignorar.

Não usem a alegria do futebol para substituir a verdadeira alegria. É isso que a aleite quer, para que nada seja feito em prol da população e que os privilégios dessa mesma elite sejam mantidos. Até porque a tristeza da população, mascarada por essa alegria abstrata do futebol, é o combustível para a verdadeira felicidade dessa elite infeliz.

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