quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mídia e sociedade carioca usam fatos desagradáveis para promover futebol


Um setor em que a democracia ainda não chegou ao nosso país é o do lazer esportivo. O futebol, desde os anos 50 e sem interrupções ainda é difundido como dever cívico e obrigação social. No Rio de Janeiro, isso é levado às últimas consequências, causando preconceito contra quem não curte futebol e usando fatos desagradáveis para estimular o fanatismo futebolístico.

Dois episódios ocorridos no Rio de Janeiro, um sobre um assassinato outro sobre um engano danoso, usaram o futebol para despertar simpatia e comoção, como se gostar de futebol fosse uma prova de bondade, simpatia e bom convívio social.

Futebol como sinal de bom mocismo

A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, por um rojão e a prisão por engano do ator e agora psicólogo Vinicius Romão, ambos fatos desagradáveis, fizeram com que a mídia usasse o gosto deles pelo futebol como propaganda pró-futebol. Algo oportuno em ano de copa.

Tudo bem se havia a preferência de ambos pelo futebol, embora reconheça que a maioria dos cariocas adere ao futebol muito mais pela aceitação social do que pelo prazer pela modalidade esportiva. Mas não precisava a mídia ter dado essa ênfase a preferência deles. Soou claramente uma propaganda pró-futebol. Só não percebeu quem é alienado.

Imagine. Porque não enfatizar o gosto musical de cada um? Ou culinário? Outros tipos de preferência? Se, por exemplo, um cara gostar de Raul Seixas? Mas gostar de Raul Seixas e de churrasco, por exemplo, não são estigmatizados como dever social. Não é sinal de simpatia nem prova de que alguém - supostamente- sabe viver em sociedade.

Por isso há a necessidade de enfatizar o gosto pelo futebol. Como no Rio de Janeiro, gostar de futebol é sinal (falso) de simpatia, a ênfase foi dada para que Santiago e Vinicius, envolvidos em situações em que poderiam ser confundidos como algozes, fossem considerados "homens de bem". 

Preconceito grave contra quem não curte futebol

Gostar de futebol é sinônimo de "homem de bem"?  Então tá. Bandido não curte futebol. Isso é uma acusação grave contra quem não curte futebol. Porque não fotografam Fernandinho Beira Mar com a camisa de seu time favorito? Pensam que ele não gosta de futebol? Hmmm, que engano...

Os cariocas precisam parar de condicionar amizades e bom convívio social a futebol. Isso é uma prova de que os cariocas andam muito ignorantes ultimamente. Futebol é apenas uma forma de lazer e como tal, nunca deve ser obrigatório. Lazer foi feito para dar prazer e se alguém não obtém prazer em uma atividade, certamente não deveria perder seu tempo com ela.

Foi desnecessário associar os casos de Santiago e de Vinicius a futebol. Desviou o foco, além de perpetuar o futebol como obrigação social. Sei que é essa transformação em dever cívico-social que garante os lucros de quem é envolvido diretamente ou não com o futebol. Todos sabem que quando algo é obrigatório, as pessoas fazem de tudo para pagar por ele.

Mas é mais do que na hora de entendermos que uma forma de lazer nunca pode ser considerada condição sine qua non para o convívio entre as pessoas. Se gostar de um time diferente (e não do Flamengo como os dos exemplos aqui citados) é considerado um direito de cada um, não gostar de futebol também é um direito a ser igualmente respeitado.

Além de que usar dois fatos desagradáveis para fazer propaganda de um time de futebol é de uma crueldade sem tamanho. Tão cruel quanto acusar aqueles que não gostam de futebol de "mau caráter".

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