terça-feira, 11 de maio de 2010

Não entendo a excessiva importância dada ao futebol

A imprensa toda tratou o assunto da convocação de Dunga com uma seriedade quase sem tamanho. Parecia mesmo que estava escalando soldados para uma guerra que (supostamente) iria trazer benefícios a população brasileira. E o povo, otário, acreditando nessa seriedade, resolvei dar o seu palpite, para qual "soldado" seria mais capaz de trazer o "benefício" à população.

E agora com o anúncio feito, lá vem a população chamar Dunga de burro, ou coisas parecidas. Que deveria ter convocado fulano e sicrano. Gente, isso é apenas futebol. Espetáculo, distração! Não é para se levar a sério! A vitória ou derrota da seleção em nada vai interferir no cotidiano da população. Corrijo: a vitória talvez influencie... negativamente, graças a feriados e a ilusão de felicidade abstrata que gera no povo brasileiro.

O nosso povo é Maria-vai-com as outras. Todos bebem uma bebida de gosto ruim, porque todos bebem. Ouvem as músicas que todos ouvem (tadinha da Laura Nyro. O sucesso dela no Brasil é quase zero. Também, não empinava o traseiro como a Beyoncé e ainda por cima está morta). Fazem o que todos fazem, pensam o que todos pensam. E curtem futebol porque todos curtem.

Quem gosta tem a ilusão de que o seu esporte favorito (qual? qual?!) é uma unanimidade. Mas quando essa unanimidade é quebrada, entra em pânico. Aquele que diz não curtir futebol é visto como antipático, louco e até terrorista. Quem gosta sempre se sente ameaçado por quem não gosta, mesmo que aquele que não gosta de futebol respeite o fato de outros gostarem.Porque a simples existência de alguém que não gosta de futebol incomoda quem gosta. Pois unanimidade dá a ilusão de que o gosto por futebol é natural, "está no sangue". "E como deve ser o sangue de quem não gosta?" pensa o boleiro, frustrado com a revelação de que existem brasileiros que não curtem futebol. E aí fica noites sem dormir, pensando que o não-boleiro irá matá-lo ou pelo menos extinguir o futebol no dia seguinte.

Pura paranóia de fanático. É uma pena que boleiros pensem assim. Mas é coerente com o pensamento doentio de quem vive em função do futebol e acredita que toda vitória de um time ou da seleção, irá acabar com as injustiças sócio-econômicas. E na verdade só se perpetua.

É uma pena ver o povo agir desse modo,de maneira tão fanática, achando importante que fulano ou sicrano tenha sido convocado para uma mísera peladinha mundial, em que 11 homens correrão atrás de uma bola para enfiá-la em uma trave para depois trazer uma estátua de ouro que não servirá para nada.

Se futebol fosse visto apenas como uma diversão sadia, merecia respeito e até admiração de quem não curte esse esporte. Mas como não tolero doenças e fanatismo é uma doença, o melhor mesmo é condenar.

O brasileiro não está preparado para gostar de futebol. Quando uma pessoa se vicia de uma determinada coisa, deve ser afastada daquilo. O próprio comportamento ensandecido dos torcedores já demonstra que normais eles não são. São comuns, mas não normais.

Portanto, para mim, tanto faz como tanto fez. Foi até bom Dunga ter evitado a maioria das estrelas na convocação. Um dos poucos estrelinhas, Robinho, é o único, desde 1990 que realmente joga futebol a moda antiga. Porque os outros estrelas descartados por Dunga, não passam de comedores de mulher e colecionadores de carros importados que jogam uma peladinha de vez em quando.

Porque na era em que tudo está se mediocrizando, até mesmo no futebol, todos preferem se contentar com a mediocridade. Até porque não precisa jogar bem para ganhar uma partida, basta fazer gols. Os gols é que garantem os pontos. Foi como na copa de 2002, que a seleção, repetindo o feito da França na copa anterior, preferiu usar o "jeitinho brasileiro", vencendo na maracutaia e no suborno, já que os adversários propositalmente perdiam para favorecer os amarelos. A cara de "dever cumprido" feito pelos alemães na final de 2002, soltou essa desconfiança.

Espero que um dia as pessoas passem a gostar de futebol de maneira mais equilibrada, sem levar o esporte a sério, dando umas boas risadas e não sofrendo com as derrotas. Porque derrotas muito maiores são as que sofremos no nosso dia-a-dia, dadas ao egoísmo e as desiguialdades que tanto impedem que alcancemos a verdadeira felicidade. Felicidade que nunca vai estar num grito de "gol!".

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