quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Adamo Bazani: Copa do Mundo não precisa de Mobilidade

OBS: Não é que eu sempre estive certo? Bazani, um estudioso do transporte público, radialista na CBN, fala aqui justamente o que eu sempre argumentei. Os planos para a mobilidade urbana deveriam ignorar estes grandes eventos e pensar mais na população, equilibrando gastos com responsabilidade.

Os turistas que se danem! Eles não vivem aqui. Os países evoluídos são bem exigentes quanto as regras para a presença de estrangeiros em seus territórios, porque os brasileiros têm que tradicionalmente "abrir as pernas" para os estrangeiros. Temos que ser firmes e exigir que estas obras sejam planejadas para nós e não para apenas ligar hotéis, aeroportos, shoppings e estádios que farão parte do consumismo que é a principal característica dessa copa inútil, uma verdadeira fábrica de ilusões.

Além disso, o que Bazani se lembrou e quase ninguém se lembra (pelo que sei só eu e alguns conhecidos) de que a copa de 2014 é um evento ESPECÍFICO: só virá aqui quem realmente gosta de futebol. O fanatismo brasileiro dá a ilusão de que o gosto pelo futebol faz parte da espécie humana e por isso vivem achando que a humanidade inteira do planeta virá para assistir aos jogos e pagar as onerosas obras, quando na verdade somente uns hooligans pingados é que deverão chegar.

As obras de mobilidade urbana nada têm a ver com a copa e sim com a obrigação das autoridades em oferecer transporte público de qualidade, que estimule as pessoas a deixarem seus carros na garagem, eliminando engarrafamentos e outros transtornos que estamos cansados de ver em nosso cotidiano.

COPA DO MUNDO NÃO PRECISA DE MOBILIDADE

Publicado em setembro 11, 2011 por ADAMO BAZANI – CBN / blogpontodeonibus



Para a Copa mesmo não é necessário gastar grandes recursos dos cofres públicos no setor de transportes. Isso porque a demanda da copa é eventual e muito pequena se comparada à realidade de deslocamento do dia a dia das pessoas. É na estrutura destas realidades que os investimentos devem ser direcionados. Afinal, muitos projetos, alguns de tão inovadores, até mirabolantes para o que os municípios precisam correm o risco de ficarem ociosos depois da Copa, enquanto outras regiões que realmente precisam, não receberam a atenção que merecem.

Em Curitiba, que é destaque no setor de transportes por causa dos Corredores Exclusivos de Ônibus, os investimentos têm sido feitos na estrutura do sistema. Essa sim vai atender os cidadãos todos os dias A/C e D/C (Antes da Copa e Depois da Copa). Para a Copa, que inegavelmente em alguns dias vai concentrar um público na região do estádio, serão feitas adaptações aproveitando a estrutura já existente. Um dos pontos interessantes do Projeto de Curitiba é facilitar a complementação entre o deslocamento a pé e de transportes públicos, o que deve ser tendência nas cidades que realmente pensam em mobilidade.

Mais uma vez Curitiba dá o exemplo e mostra que os grandes investimentos têm de ser direcionados aos cidadãos. Para um evento mundial, não é necessário muito.

Governadores e prefeitos podem vir com o discurso pronto: “A Copa do Mundo é só um pretexto para os investimentos em áreas de transportes, quem precisa ser atendido é o cidadão”.
A frase é verdadeira, mas na prática, a intenção não é essa.

O que a classe política, de todas as esferas, quer mesmo é garantir uma marca num evento de relevância mundial e pensam mesmo em investir para a Copa e pronto.

Por isso, ao analisar boa parte dos projetos de mobilidade incluídos no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento destinado para este setor, é possível esbarrar em propostas mirabolantes, mas que são diferentes do habitual do país e podem chamar a atenção, e em trajetos que mostram que fica evidente a intenção de só atender aos turistas e torcedores.
São corredores de ônibus e os caros monotrilhos e VLTs que ligam aeroportos diretamente a estádios.

Vale ressaltar que não é de hoje que a exemplo do que pode acontecer com estádios, que podem virar incômodos elefantes brancos, algumas obras de transportes podem ficar quase ociosas depois do mundial, enquanto em outras regiões das cidades atendidas pelo PAC e que serão sede dos jogos (12 municípios) concentram altas demandas de passageiros e precisam de investimentos sérios e que financeiramente até necessitem de quantias altas, mas que atendam realmente à população.

Não se pode negar que os governos estão mesmo interessados em imagem e Copa.
Prova disso foi o Monotrilho da linha 17 Ouro de São Paulo, que ligaria o Aeroporto de Congonhas, na zona Sul de São Paulo, ao estádio do Morumbi.

Quando a Fifa descredenciou o estádio do Morumbi, a linha 17 Ouro, que era anunciada para 2014, ficou em segundo plano e as atenções se voltaram para a região de Itaquera, na zona Leste de São Paulo, onde deve ser concluído o estádio do Corinthians. Agora, a linha que vai custar R$ 3,1 bilhões e transportar 252 mil passageiros por dia só vai ficar pronta entre 2015 e 2016.
Aliás, R$ 3,1 bi para transportar 252 mil passageiros é considerado proporcionalmente muito dinheiro para pouca gente atendida.

Mas a questão é: Por que foi mudada a prioridade de construção da linha? Quer dizer que só porque não vai ter Copa no Morumbi, a linha pode esperar?

E os 252 mil passageiros? Ah é, que esperem mais um pouco, já aguardaram desde 12 DE ABRIL DE 1936, QUANDO O AEROPORTO FOI INAUIGURADO E DESDE ENTÃO NUNCA TEVE UMA LIGAÇÃO DECENTE POR TRILHOS ATÉ AS ÁREAS MAIS MOVIMENTADAS DE SÃO PAULO.

INVESTIMENTOS PARA A COPA NÃO PRECISAM DE TANTO DINHEIRO E SIM OS PARA A POPULAÇÃO:

A verdade é que para a Copa do Mundo, a demanda será pequena. È claro que vai aumentar o movimento nas cidades sedes e a concentração de pessoas. Não precisa ser especialista para saber disso.

Mas os transportes devem ser priorizados e receber a maior parte dos investimentos onde há muita demanda de pessoas, onde está o trabalhador, o estudante e o cidadão. Ou seja, nas rotas entre os bairros residenciais e os locais geradores de emprego e renda. Essa demanda é diária e independe se vai ter um jogo de futebol ou um show internacional.

Um jogo de Copa reunirá entre 30 mil e 70 mil pessoas. Sem contar as que vão ao redor do Estádio. Levando em consideração a soma das pessoas que vão entrar no estádio e das que ficam ao redor, no máximo 140 mil pessoas devem se concentrar na região dos jogos no dia que e no horário que eles ocorrerem.

SÓ NO CORREDOR DE ÔNIBUS REBOUÇAS SÃO TRANSPORTADOS 375 MIL TRABALHADORES POR DIA. NO METRÔ ENTÃO, A DEMANDA É DE 4 MILHÕES DE PESSOAS DIÁRIAS.

ASSIM, INVESTIR GRANDES RECURSOS SOMENTE NAS LIGAÇÕES QUE VÃO PRIVILEGIAR OS ESTÁDIOS, É DE NOVO SEGUIR UMA PRÁTICA BEM ANTIGA NO PAÍS. GASTAR MUITO PARA BENEFICIAR POUCOS.

Mas estes poucos dão mais mídia, é verdade. No entanto, para eles, então, não seriam necessários modais de tão alta capacidade e tão caros, se fosse identificado que eles serviriam mesmo mais nos dias de jogos que no dia a dia das cidades.

Os municípios que estão se dando bem com o PAC da Mobilidade são os que já tinham planos de transportes anteriores voltados para o cidadão e fizeram apenas algumas adaptações para o mundial.

Curitiba é um exemplo. Até hoje ela prova que ÔNIBUS NÃO É COISA DO PASSADO E MESMO COM AS INTENÇÕES DA CONSTRUÇÃO DE UNA LINHA DO METRÔ, REVELA QUE SE BEM OPERADO E COM PRIORIDADE NO ESPAÇO URBANO, O ÔNIBUS É EFICIENTE SIM!

E para a Copa, Curitiba vem com soluções de baixo custo e eficientes, especificamente para o mundial. A cidade vai usar a estrutura que já está em expansão de corredores de ônibus de trânsito rápido, os BRTs, que garantem acessibilidade, conforto, rapidez e modernidades nos transportes. E algumas soluções específicas para a Copa não vão pesar tanto do bolso do contribuinte. Veja alguns exemplos:

- CIRCULAR COPA: Vai ser uma linha de ônibus que vai atender a quem vai para o estádio ou região. O circular Copa vai operar no mês do mundial e vai ligar a região central da cidade às imediações do estádio Joaquim Américo, o Arena da Baixada. Como boa parte dos hotéis onde devem ficar os torcedores é no centro de Curitiba, a linha será ideal para este tipo de demanda. Nos dias da Copa, o Arena da Baixada deve receber 37 mil pessoas que usam transporte público.

- APROVEITAMENTO DA ESTRUTURA JÁ EXISTENTE: Por causa dos ônibus em corredores, Curitiba e região metropolitana possuem um dos melhores sistemas de transportes do País. O BRT – Bus Rapid Transit de Curitiba serve de modelo para a implantação de ônibus rápidos em vários lugares do mundo. Assim, o sistema possui uma rede de linhas que já serve a região do Joaquim Américo (Arena da Baixada) e também o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais e a rodoferroviária de Curitiba. Assim, em dias de jogos serão reforçadas as frotas das linhas Aeroporto Direto, Aeroporto Executivo e dos Expressos do eixo Norte/Sul e do Boqueirão. Os passageiros destes serviços costumeiramente descem nas Estações Praça Oswaldo Cruz (a 690 metros do estádio) e Getúlio Vargas, a 1100 metros.

- PREFERÊNCIA PARA PEDESTRES E TRANSPORTES PÚBLICOS: Para que uma cidade tenha mobilidade com democracia e liberdade, o privilégio deve ser dado aos pedestres e ao transporte público. Aliás, os sistemas modernos de transportes pensam não só no veículo, mas proporcionam espaço suficiente, agradável e acessível para o deslocamento a pé. E é isso que deve ocorrer na Copa, em Curitiba. Nos dias de jogos, as ruas que dão acesso para o Estádio devem ser bloqueadas para trânsito de veículos. O Ippuc Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba já estuda a melhor forma de proporcionar deslocamento a pé nestas vias mesmo bloqueadas. Assim, entre estes projetos, está a ligação da Rua Buenos Aires e Pateur ao Corredor de ônibus da Avenida Sete de Setembro. A rua engenheiro Rebouças e Avenida Getúlio Vargas devem ser adequadas para receber mais pedestres que vão da região do estádio até o Corredor de ônibus Marechal Floriano Peixoto. Entre as adequações viárias está o aspecto segurança. Por isso, o poder público deve aumentar o efetivo de policiais e instalar câmeras de segurança.

O exemplo Curitibano é um caso de que durante a euforia da Copa, o dinheiro público deve ser respeitado.

Respeitar o dinheiro público não é deixar de gastar. Mas é gastar de maneira correta e privilegiando a maioria dos cidadãos em suas reais necessidades do dia a dia e não apenas numa ocasião.

Afinal, apesar de os planos de mobilidade em boa parte das cidades não deixarem transparecer isso, mas EXISTE VIDA APÓS A COPA!!!!

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

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